quinta-feira, 28 de abril de 2011

Da Tristeza e da Felicidade

Canta a música que "tristeza não tem fim, felicidade sim";
Mas agora, do outro lado da tristeza, asseguro que não é verdade.
Depois de atravessar as areias movediças da tristeza,
Olho para trás e já não me lembro como era.
E por isso posso afirmar: a felicidade fica para sempre na memória;
A tristeza esvai-se, desaparece, torna-se insignificante,
Até deixar mesmo de ser uma recordação.

Tenho imagens da tristeza mas não consigo lembrar as emoções;
O que me fazia chorar é agora um mistério.
Mas o que me fazia sorrir, basta recordar para sorrir outra vez.
Por mais isso digo: a felicidade vive e revive-se para sempre,
A tristeza não deixa rasto, marca ou mágoa.
A tristeza é efémera, a felicidade eterna;
A tristeza não se repete, a felicidade revive-se constantemente,
Nem que seja na serenidade de ter ultrapassado a tristeza.

(AR)

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Súplica

Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.

(Miguel Torga)