sexta-feira, 29 de julho de 2011

Metade




Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio.

Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que oiço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja para sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que eu oiço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso e a outra metade é um vulcão

Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que me lembro ter dado na infância
Porque metade de mim é lembrança do que fui
Mas a outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais que uma simples alegria
Para me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer
Porque metade de mim é plateia
E a outra metade é a canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

(Oswaldo Montenegro)

PC

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Se soubesse o que sei hoje...



De todas as vezes que oiço dizer "se soubesse o que sei hoje..." penso sempre que nada é mais errado. Pensamento negativo e arrependimento não acrescentam valor à vida. A resolução de cada problema deve ser uma meta e cada decisão errada uma forma de aprendizagem porque, como dizia o poeta "a vida só dá para quem se deu, para quem amou, para quem chorou, para quem sofreu". É assim que crescemos e aprendemos a separar o trigo do joio, abrindo o nosso caminho passo a passo.

Nem o passado é alterável, nem o futuro é controlável; a vida não é escrita a lápis. Tudo o que precisamos é reflexão, princípios e bom senso.



Como Dizia o Poeta

Quem já passou por essa vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos que eu
Porque a vida só se dá para quem se deu
Para quem amou, para quem chorou, para quem sofreu
Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não
Não há mal pior que a descrença
Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão
Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair
Para quê somar se a gente pode dividir
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração, esse não vai ter perdão
(Vinicius de Moraes/ Toquinho)

PC

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Quando as cortinas fecham

Quando o tema foi lançado e comecei a pensar na forma como o iria abordar, rapidamente me veio à cabeça uma música de Chico Buarque, "Beatriz". A letra fala da vida de actriz e vale muito a pena ouvir.

Na verdade, acredito que somos todos actores e actrizes, que vestimos uma pele mais ou menos inteligente, com mais ou menos carácter, propondo-nos a mais ou a menos, consoante as nossas ambições, interesses e regras do jogo; regras essas que não deixam de ser importantes para estabelecer limites e não voltarmos ao tempo dos primatas, mas que muitas vezes nos roubam a identidade enquanto seres humanos.

Por tudo isto, e nem que seja para confirmar que estamos no caminho certo, de vez em quando é importante fechar as cortinas, despir essa pele e questionar o sentido que damos à vida.

De onde venho? Para onde vou? É mesmo isto que quero? Sou realmente feliz? São algumas perguntas que nos fazemos e que, na procura das respostas, nos ajudam a perceber se somos de facto felizes ou não.

Uma coisa é certa, o livre-arbítrio existe e nós exercêmo-lo todos os dias, nos mais pequenos gestos, nas mais curtas palavras. Cabe a cada um de nós fazer essa auto-análise e exercer também a capacidade de mudar o que está errado, não abrindo mão de um direito que nasce connosco, o de ser verdadeiramente feliz.

PC in Projecto 2970